sábado, março 16, 2013

Cinco Anos

Faz cinco anos que o meu Pai faleceu, depois de quase quinze dias de sofrimento. São memórias dum passado recente, ainda tão presentes e recordado muitas vezes.
Foi um domingo, no qual todos os filhos o foram visitar, após o que resolveu "desistir" e partir para algures, com calma e tranquilidade. Recebi o telefonema do hospital perto das dez da noite e seguimos de imediato para lá, onde fui informado do falecimento. Tinha falado ao C. que também lá estava e que ficou completamente devastado.
Os meus irmãos tinham a esperança de que ele se aguentaria e prosseguiria a viver, apesar de todos os avisos que eu ia deixando e fazendo, porque tinha a certeza de desenlace desse internamento e das suas consequencias.
Segui para casa da N. para lhe dar a noticia e, assim que ela me viu, percebeu de imediato o que se tinha passado e como é evidente, começou a chorar fortemente. Contactámos a agência funerária que se deslocou nessa noite junto de nós e tratámos logo de todos os pormenores do funeral.
Entretanto o meu irmão avisou a minha outra irmã, por telefone, tendo-a também deixado em estado de choque porque apesar de ser enfermeira, também estava convicta das melhorias do pai.
No dia seguinte fui sózinho à morgue do hospital Amadora Sintra "levantar" o corpo que foi uma das coisas que mais me custou e que recordo com mais intensidade; ver o meu Pai sereno, tranquilo mas sem vida estendido na mesa da morgue ( mal barbeado) causou-me um choque tremendo e nem sei como consegui guiar de volta.
Ele foi para a igreja de são João do Estoril tendo ficado em câmara ardente a partir da manhã de dia 17; foi "visitado" por centenas de pessoas na medida em que era bastante conhecido em muitos meios e tinha imensos amigos e conhecimentos, para além dos amigos e conhecidos dos filhos. Foi um dia extenuante e extremamente cansativo.
No dia 18 foi o dia do enterro e nesse dia, ao chegar ao pé dele, fui-me completamente abaixo e tive uma enorme saudade dele e uma pena imensa de não ter tido tempo para conversar mais e melhor com ele, esclarecendo o muito que tínhamos para falar. Foi o meu irmão C. que me aparou e me disse palavras sentidas e bonitas que me acalmaram bastante.
A missa de corpo presente teve que ser mudada para a igreja dado o elevado número de pessoas presentes e foi umas das missas mais bonitas a que assisti. Tinha pedido um coro de música clássica, de que o meu Pai era grande apreciador, que deu um tom muito especial à cerimónia. O meu irmão C. conseguiu fazer um elogio fúnebre lindíssimo e emocionante que nos  deixou a todos a chorar.
Acompanhei o meu Pai no carro funerário, acompanhado pela minha sobrinha B. que não me quis deixar ir sózinho e no cemitério, na despedida final ao deitarmos uma mão cheia de terra na campa, realizámos mesmo que tinha partido e que nunca mais o veríamos em vida.
Foram momentos, emoções e sensações muito fortes e que ainda perduram ao longo deste tempo, escrevendo estas palavras com uma forte emoção e um enorme sentimento de perda.
Deixou-nos o seu legado, a sua postura na vida e principalmente após a sua morte, conseguimos unir-nos e neste momento os seus filhos têm uma relação fantástica e certamente duradoura, que o deverá deixar bastante feliz seja onde estiver.
Levei bastante tempo a "perdoar" a ausência dele e a sua aparente falta de afectos, mas também tive com ele, algumas "conversas" que me levaram a integrar esses sentimentos. Na praia de sto André, local onde passei parte dos melhores momentos da minha vida e muito relacionado com ele, sentado na areia e voltado para o mar,tive, nessa momento, a convicção plena e a certeza de que ele estava sentado a meu lado e que conversavámos calma e tranquilamente. Estive bastante tempo nesta "conversa" que me tranquilizou e apaziguou, fazendo com que o entendesse e percebesse melhor.
Penso bastante nele e na sua forma de estar na vida e, curiosamente, o meu filho mais velho também tem uma elo e uma ligação enorme a este avô com quem teve uma relação especial.
Passaram cinco anos e, neste momento, temos a sorte de termos uma família mais coesa e unida, com sentimentos fortes e bem sentidos, bem como a certeza de que nós, os filhos, conseguimos construir as nossas vidas baseadas nos princípios que ele nos deixou e no seu exemplo de vida e de rectidão.
A perda mantém-se, a dor da saudade é grande e a falta bastante sentida, mas também tenho a certeza da sua personalidade, da sua maneira de estar e de ser, com todas as suas qualidades e também os seus defeitos, mas no essencial o meu Pai era e será sempre o meu PAI, que amei e amo com muito sentimento e emoção.
De todos os entes queridos que tenho perdido, a minha avó Eduarda e o meu Pai são aqueles que mais me lembro, apesar de nestes últimos tempos me recordar com bastante frequência e intensidade do meu avó Zé, pai da minha Mãe. Parece que me quer transmitir algo neste momento e que quer que eu saiba qualquer coisa importante, mas ainda não consegui efectivamente perceber ou receber essa mesma mensagem.
Na terapia que comecei a fazer, recordei muitos desses entes e sobretudo uma pessoa que teve um papel importante no meu nascimento e vida, que foi a minha tia Lusa. Sempre demonstrou um enorme afecto e carinho por mim e pelos vistos e em termos esotéricos, foi a minha "protectora", até porque até assistiu ao meu nascimento. Tenho alguma pena e até remorsos de a ter "abandonado" um pouco no fim da sua vida, mas a verdade é que a minha convivência com determinados aspectos da vida duma pessoa é bastante problemática e não consegui encarar de animo leve o local onde ela viveu os seus últimos tempos. Sei que quando a fui ver à câmara ardente, me fez uma impressão enorme o facto de a encontrar sózinha e sem ninguém ao pé; foi a continuação duma vida bastante solitária e dedicada ao marido, meu tio Vítor, sem filhos e com poucos ou nenhuns contactos familiares.
Não sei se a Morte será o fim absoluto de tudo ou se haverá algo mais para além disso, mas a verdade é que, desde que a pessoa perdure nas nossas memórias e no nosso coração, ela estará sempre presente duma forma ou doutra. real ou apenas nessas mesmas memórias. Mas sempre imortal e sempre presente.
Por isso, hoje, o meu SORRISO é dedicado em especial ao meu PAI, mas também a todos os meus familiares queridos e já falecidos que continuam a acompanhar-me e a estar comigo no meu dia a dia. Para todos eles, o meu AMOR e CARINHO.
 

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