sábado, dezembro 13, 2014

Velhos do Restelo

Mais um dia de trabalho e de consultas, neste sábado cinzento, chuvoso e bastante tristonho. 
Esta época está bastante estranha, visto que, normalmente, costuma ser uma época bastante movimentada, consumista e alegre; este ano parece tudo diferente, com menos pessoas nas ruas,  menos espírito natalício e principalmente uma grande falta de animação correspondente à época. Parece haver uma falsa animação, como que uma obrigação de corresponder a estes dias sem a vontade necessária. 
Há eventos, feiras e mercados para promover o consumo e este espírito, mas parece-me que efectivamente não há mesmo essa vontade colectiva. A verdade é que estamos perante casos e casos de corrupção, de falta de ética e de verdade na sociedade, do ruir dum espírito republicano de rigor e preocupação colectiva o que leva as pessoas a estarem descrentes e a não acreditar neste presente.
Se aliarmos a eterna crise que vivemos há anos e que continua, apesar de todas as promessas ou os comentários de que estamos no bom caminho, temos o cenário perfeito para esta desmotivação e esta evidente falta de espírito natalício colectivo.
Também se pode dar o caso de ser algo intrínseco, relacionado com a fase da vida em que estou e a forma como me tenho sentido. A minha incapacidade em aceitar determinados pressupostos, factos ou ausências de grande ruído podem influenciar, e certamente que o fazem, a minha mascara pessoal e social e assim provocar esta falta energética e empreendorismo que sempre me caracterizou e que me parece ter abandonado.
Tenho a consciência de que este meio onde estou não me é, certamente, favorável e benéfico para o meu Ego e identidade, porque potencia estas faltas e sobretudo a vontade de fugir e de ir para além de que tenho.
Por outras palavras, sentindo-me neste ambiente estranho e muitas vezes incompreensível para mim, bem como para os outros visto que não há quaisquer pontos de contacto ou entendimento, a minha tendência é refugiar-me em caminhos e/ou atalhos que já conheço e que me permitem, ilusoriamente, fugir e sair deste quotidiano. É como que um constante regresso a um passado de que não gosto, que não me agrada mas que, como os velhos do restelo, avessos às mudanças persisto em seguir.
Quanto a esses mesmos Velhos do Restelo, tão falados nas minhas últimas sessões, sinônimo de aversão à mudança e ao diferente, à manutenção do status quo e do que existe; fez-me um enorme estremecimento visto que tenho a opinião de ser uma pessoa completamente aberta às inovações e às novidades, mas provavelmente a minha identidade não é assim... isto é, por motivos variados e até por defesa própria, habituei-me se calhar a determinados rituais e formas de estar que me dão uma aparente tranquilidade e paz de espírito. 
Mas esse comentário fez alguma mossa e talvez seja a causa de muitos males existenciais e da minha tendência de controlar e de mandar, por ser talvez a única forma que conheço de manter as coisas imutáveis e como eu acho. Será??? 
Serão as influências paternas, mais os os meus medos e receios bem como toda a instabilidade em que vivi que provocam este síndrome dos velhos do Restelo. Curioso como esta expressão me deixou tão irritado e até confuso pela novidade que foi e pela surpresa dos factos. É igualmente curiosa a noção que temos de nós próprios que muitas vezes não corresponde ao que efectivamente somos. 
Mas o importante é mantermos o nosso SORRISO, continuarmos a nossa vida e tentarmos que a Felicidade seja uma constante da nossa vida. Temos tudo para que assim seja... 

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