quarta-feira, outubro 13, 2010

Dinheiro

A minha relação com o dinheiro sempre foi um pouco conflituosa e complicada porque, infelizmente vivi durante muito tempo duas realidades completamente distintas. Sendo filho de pais separados e de condições económicas totalmente diferentes, assistia numa das casas a gastos imensos, a uma despreocupação total pelos consumos, a um esbanjamento e a um facilitismo muitas vezes sem explicação, enquanto no outro lado havia uma permanente contenção dos gastos, uma dificuldade no quotidiano e uma gestão super cuidada dos dinheiros e dos gastos, uma vez que o dinheiro era pouco.
Foi por isso que quando me divorciei fiz questão que houvesse de ambas as partes um nível idêntico e semelhante para evitar os sentimentos que eu tive, duma certa revolta, incompreensão, mas também deslumbramento e seguir pelo caminho mais fácil. Penso que consegui este meu objectivo duma certa igualdade, se bem que actualmente e como poderá ser eventualmente lógico, haja sempre algumas diferenças. Mas no básico nunca houve grandes discrepancias porque ambos actuámos correctamente.
Daí a minha conflitualidade com o dinheiro, precisando de ter uma base sólida e forte para me sentir bem e seguro, porque sempre soube o poder do dinheiro e do que ele pode ou não fazer. No presente complicado e difícil, esse é um dos motivos da minha instabilidade visto que não sei se conseguirei manter a minha capacidade económica e durante quanto tempo, pois parece-me que nos estamos todos a afundar e como dependo directamente do normal cidadão, é normal que esta "depressão" me comece mesmo a atingir.
Como não sei (ainda) como vou reagir e fazer fase a situações mais complicadas e anémicas, vou vivendo este quotidiano medianamente angustiado e com dificuldade em reagir e sobretudo em levar por diante cada dia, sabendo de qualquer maneira que, felizmente, estou em melhores situações do que muita gente, porque ainda tenho alguma coisa no dia a dia e também guardado para algum tempo.
A minha grande dúvida é a mesmo o de toda a gente, ou seja, quanto tempo vai levar a recuperação e mesmo se esta vai acontecer ainda durante a minha vida útil, porque a verdade é que todos os dias há notícias tremendas de desperdícios, gastos desnecessários e poucas novidades para se controlar e inverter esta mesma situação.
Não é ser pessimista nem repetitivo, mas tenho a noção de que, mesmo hoje, grande parte das pessoas ainda não tem a consciência completa do quadro em que estamos e que, qualquer dia, estamos como a Coreia do Norte, vivendo da terra e numa enorme pobreza porque não produzimos o suficiente, nem crescemos adequadamente.
Estou cansado de, mais uma vez, estar no meio deste enorme furação porque toda a vida foi confrontado com momentos de grande crise, começando pela revolução de Abril, pelo PREC, com períodos duma grande irracionalidade e loucura, pela (quase) bancarrota dos anos 80, que se diferencia da actualidade por, na altura, haver esperança de melhores dias e duma inversão da realidade, que aconteceu, para chegado agora, a esta (meia ) idade ter que enfrentar mais uma (grave) crise e um presente bem complicado. A grande diferença é que neste momento tenho mais pessoas com quem me preocupar e que são a minha principal fonte de preocupação por querer dar-lhes o melhor e ter já passado os cinquenta, com a consequente diminuição da actividade e da agilidade. Queria já estar e assim pensava há uns 2 ou 3 anos, numa certa pré-reforma a passar o testemunho ao meu sucessor no consultório.
Em contrapartida, não tenho, neste momento, interessados em ficar com o consultório, uma vez que, infelizmente, não posso ainda abandonar o lugar principal por motivos óbvios e os eventuais interessados não estão para ficar à espera desse dia, que vejo cada vez mais longíguo.
Este comentário hoje parece, uma vez mais, o muro das lamentações mas é a realidade que sinto e sobretudo a angústia que me vem acompanhando nestes últimos tempos, por ter deixado de acreditar no presente e no futuro, o que é grave e preocupante porque temos sempre que ter ESPERANÇA na nossa vida e no nosso quotidiano. Será que estou uma vez mais a entrar numa relativa depressão ou é "apenas" fruto destas angústias e de não saber que caminho tomar ou como reagir perante as enormes adversidades do tempo presente.
Felizmente que sei que não estou sozinho e tenho sentido um enorme carinho e apoio, mas perante esta realidade profissional apenas eu a vivo e enfrento, tendo forçosamente que arranjar modos de manter-me à tona e prosseguir o caminho .
Hoje chega o meu filho mais velho que vem passar dois dias a Lisboa e resolver uma série de pequenos assuntos pendentes, pelo que hoje ou amanha irei jantar com ele e conversar acerca da vida e do que temos pela frente. Já falei com ele agora, que se encontra de férias uns dias em Barcelona com a suam namorada e já com entrevistas para eventuais empregos. Esperemos que tenha sorte e tudo lhe corra o melhor possível.
Penso que estou a ser tão repetitivo e chato nos meus comentários que já ninguém me lê ou responde, mas a verdade é que este blogue funciona como um verdadeiro escape e uma auto análise bem importante para mim e para estes dias conturbados e muito preocupantes, nos quais poucos motivos de satisfação vou tendo a não ser a minha bem sucedida dieta e a confirmação de que felizmente tenho muita gente que gosta de mim e me acompanha.
Isso deixa-me com um enorme SORRISO da felicidade possível, com o querer ter mais força. mais energia e sobretudo acreditar mesmo que é possível vencer e seguir em frente, neste imenso mar conturbado e agitado.

1 comentário:

planetafryo disse...

ora eu sempre sigo o tio, só que nem sempre tenho respostas, mas concordo con muita cosa desta imensa crise. Um grande abraço e esperança.