quarta-feira, abril 25, 2018

Revolução

Abril, 25, quarenta e quatro anos depois da revolução. Tinha 18 anos, era um ingénuo e pouco sabia da vida, indo entrar para a Faculdade nesse mesmo ano, o que não aconteceu precisamente por este acontecimento.
Desconhecia a realidade da guerra, da vida de muitos portugueses, da miséria, pouco sabia de política porque não era permitido e, mesmo tendo familiares que estiveram presos e outros exilados, pouco me interessava ou sabia. Era tudo muito opaco e mantido na ignorância, sendo um povo triste, perseguido e convivendo com a trilogia "Deus, Família e Futebol". E tínhamos o fado, canção melancólica.
Depois deste dia, foi a descoberta total e completa de tudo e mais alguma coisa, filmes nunca dantes vistos, partidos políticos e uma intensa actividade social. O primeiro de Maio que se seguiu foi uma manifestação gigantesca de espontaneidade, alegria e também de ingenuidade visto que muitos pensavam que seriamos um país livre, ocidental e rapidamente moderno.
Tivemos o PREC, em que quase estivemos em guerra e só em 1975, Novembro se conseguiu acalmar o País e entrar numa senda de progresso e melhoria das condições de vida, afastado Portugal da esfera comunista. Foram tempos de ideais, de encantamento, de grandes líderes como Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Mário Soares e Alvaro Cunhal que, gostando-se ou não deles, fizeram o País que temos à excepção do primeiro assassinado num acidente de avião a caminho do Porto.
As notícias, os acontecimentos na época eram alucinantes, a voragem das pessoas igualmente rápidas e tudo era vivido com intensidade, com amores e ódios e desde logo com uma separação nítida das pessoas, das famílias e até de regiões.
Tivemos o fim da guerra colonial - para mim, o maior feito da revolução, a par da democracia - que devorava recursos e vidas. Foram muitos os que morreram quer dum lado quer doutro, pelo que o fim dessas mesmas guerras foi uma nota altamente positiva. Já a descolonização não foi tão positiva pelos muitos interesses em jogo e porque estávamos em plena guerra fria. Em 1975 estive em Luanda - com o meu Pai que pertenceu ao governo de transição - e assisti ao principio da guerra civil angolana que durou muitos e muitos anos matando milhares de pessoas, empobrecendo o país e conduzindo ao retorno de milhares de pessoas que tinham a sua vida feita por essas paragens.
Hoje, passados 44 anos, estamos diferentes, com uma democracia ainda recente e sujeita a uma onda de corrupção imensa, bem como a uma sociedade ainda não justa nem igualitária. Estamos na Europa, no Euro, na Nato e em muitas organizações mas continuamos um pequeno País sem um rumo definido e sem ter aproveitado as excepcionais condições que tivemos para crescer e nos consolidarmos como sempre aconteceu ao longo da nossa história, em que sempre ou quase sempre desperdiçamos os recursos que tivemos.
Infelizmente todos os que nasceram depois de 1974 nem fazem ideia do que era Portugal antes deste dia e, graças ao pouco empenho em ensinar e em demonstrar como se vivia, muitos deles nem sabem quase a que se refere este feriado, que é aproveitado para praia, compras e apenas mais um feriado.
Mas se se perguntar se valeu a pena, é lógico e evidente que a resposta é positiva mesmo que não estejamos como poderíamos e gostaríamos de estar. Valeu a pena pela democracia, por termos a liberdade de sermos Seres Humanos, de ter acabado a guerra e de estarmos integrados neste mundo global e também desorganizado. Por isso, viva a revolução e os Capitães de Abril que a fizeram.
Hoje, aproveitando o feriado, fomos fazer compras e organizar o nosso evento de dia 9 de junho; já temos quase tudo feito e comprado, na certeza de que vamos chiquérrimos (lol)... passámos também pelo Corte Ingles para completarmos as compras e agora já em casa, preparamos o resto da semana, com preparação de comidas, arrumações, etc. E cansados.
Para terminar com um SORRISO devo dizer que os anos subsequentes à revolução foram anos vividos com uma intensidade enorme em que cada dia era vivido duma forma única. Também em 44 anos a evolução da Humanidade, das técnicas, da informática faz com que tenhamos a FELICIDADE de quase termos vivido em dois mundos. O actual em que tanta coisa temos e o antes em que tudo se processava tão mais lenta e calmamemte.`É a evolução natural da vida...
 
 

Sem comentários: