domingo, abril 15, 2018

Filho(s)

Dia 15 de Abril... faz hoje 31 anos que nasceu o meu filho mais velho pelas duas ou três da manhã. Eramos jovens, imaturos apesar dos meus 30 anos e dos 24 da Mãe; foi um filho desejado, num casamento feliz, na altura, sem grandes problemas ou, pelo menos, com grande parte dos problemas superados nesse momento sem ainda sabermos o que se avizinhava.
Nasceu na Cruz Vermelha, sem grandes condições porque nem incubadora tinha, sendo quase necessário transferi-lo para um hospital publico. Felizmente que não foi necessário, mas por isso mesmo já o meu segundo filho nasceu no São Francisco Xavier com melhores condições médicas, mas menos condições hoteleiras.
Foi um dia muito especial, tanto mais que tenho a certeza do momento em que ele foi concebido porque foi algo de muito especial e de muita envolvência; um momento de pura magia, muito romantismo e, felizmente, com um produto final fantástico. Ver um Ser do nosso sangue acabado de nascer e sob a nossa responsabilidade faz mudar qualquer pessoa e, desde aí, sei que mudei imenso, tornando-me mais responsável, ligeiramente mais maduro e mais consciente da vida.
Passados 31 anos, tenho todo um passado com este meu filho, com momentos muito bons, outros nem por isso e ainda outros muito maus, não tendo agora qualquer presente com ele, por motivos que, sinceramente, nem sei bem quantificar nem justificar para este tão grande afastamento. Melhor dizendo para esta ruptura da parte dele.
Na verdade, sinto ter dado demais e ter cedido mais do que devia ao longo destes 31 anos mas, pelo menos, sinto ter feito o que devia, ter dado tudo aquilo que podia ( e até o que não podia) para formar um Ser Humano consciente, responsável e devidamente preparado para a vida do século XXI. E, tirando alguns aspectos negativos da sua identidade, sinto ter conseguindo e contribuído para o muito que, hoje, ele é.
Talvez um dia ele perceba melhor o que é ser Pai, ter atravessado tantas pontes como eu atravessei, ter mudado de registo como o fiz e ainda ter-me revelado ao mundo e à sociedade. Talvez ele(s) não perceba(m) a coragem e a força que é preciso para nos expormos da forma como o fiz, de pertencer a uma minoria e não me esconder; bem pelo contrário, faço questão de ser como sou, de ter encontrado a FELICIDADE neste registo e de saber bem quem sou e como sou.
Agora que vou entrar numa nova fase da minha vida - com um casamento pelo qual anseio há tantos anos - lamento profunda e sentidamente não ser acompanhado pelos meus filhos que foram, são e serão sempre uma parte integrante da minha pessoa e que, malgré tout, estarão sempre comigo, no meu coração e em todas as minhas células, apenas e tão só porque os AMO incondicionalmente.
Também tenho pena de não encontrar em parte alguma da minha família uma pessoa, um Ser que nos tente conciliar de verdade e como deveria ser mas, infelizmente, por um motivo ou por outro, ninguém o faz realmente. Apenas tentativas frustes e pouco empenhadas.
Mas quando ele(s) for(em) Pai(s), talvez compreenda(m) a dor e o sofrimento que provocam a alguém que sempre se empenhou na sua educação, que (quase) sempre os acompanhou e ajudou nos seus sonhos, nas suas loucuras e em tudo aquilo que podia: mais do que devia, mais do que, por vezes, me era possível, mas sempre empenhado e presente.
Em 31 anos este meu filho teve um percurso fabuloso, um curriculum fantástico sempre com o meu apoio e ajuda e sempre com muitas memórias, muitas recordações, muitos SORRISOS, algumas tristezas, muitas preocupações, mas sempre, sempre na linha da frente para que a FELICIDADE lhe(s) fosse(m) possível e que a vida fosse aquilo que ele(s) mais queria(m) e desejava(m).
Sinto ter cumprido a minha "obrigação" como Pai e se ele(s) não me compreende(m) como pessoa, sei que não sou eu que estou errado ou com uma perspectiva negativa, mas sim ele(s) que não consegue(m) ver e analisar que um Pai também é um Ser Humano que todas as suas limitações, os seus erros. Devia(m) reconhecer no Pai, um Homem bom, por vezes bastante naif, turbulento, muitas vezes uma criança neste adulto em que agora me transformei mais e melhor; enfim, um Ser Humano que "apenas" quer ter a sua FELICIDADE e ver os SORRISOS do(s) filho(s) amado(s).
Onde estará mesmo o meu erro capital para que tenha neste momento de passar por esta dor e este sofrimento que poderia simplesmente ser ultrapassado, esquecido e perdoado fosse o que fosse que se tivesse passado. Mas meu(s) querido(s) filho(s), estou aqui e estarei sempre presente na tua/vossa vida mesmo que, neste momento, nada signifique para ti e para o teu irmão. Os laços e o sangue existem e, espero, desejo que sejam uma realidade agora e sempre.
Muitos Parabéns para ti, meu querido filho, e muitas FELICIDADES; que as lágrimas que agora me correm pela cara ao escrever-te este texto te alcancem e te façam reflectir na vida, em ti, em mim e em nós. Um sentido e saudoso beijo do teu Pai.

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