quinta-feira, março 12, 2015

Desassossego

Há sempre uma primeira vez para tudo... pela crise e pela falta de possibilidades, hoje o meu primeiro doente quis saber quanto seriam as consultas para tratamento dum dente, com o seguro que tem. Não deixou fazer nada e nem sequer remarcou para dar início ao tratamento.
Tem um estado dentário péssimo e um seguro em que paga pela tabela, pelo que não tem qualquer comparticipação do seguro. Faz pena ver um pessoa nova - nos trinta e pouco - com este estado dentário e sem dar prioridade a alguns dos tratamentos que serão indispensáveis.
É bem demonstrativo da situação em que estamos e do enorme desnível actualmente existente, em que há uma minoria sem quaisquer problemas e a grande maioria remediada e outra completamente sem possibilidades e a viver mal. Sem conseguir aceder aos cuidados básicos.
Hoje cheguei à conclusão de que ando "assustado" e entre o conflito do que sou, do que fui e do que quero ser na certeza de que apenas há um caminho possível e consciente neste momento. A fuga para o passado é impossível e contraditória com o que sei neste momento e com aquilo que quero, mas por vezes ainda sou assaltado por resquícios do passado que assombram o presente.
A mente humana é extremamente complexa e quando se está num processo analítico e de descoberta do (in)consciente ainda mais difícil se torna fugir dos nossos fantasmas e dos nossos medos, havendo a necessidade não de fugir mas de os compreender e interiorizar.
Hoje de madrugada faleceu o sogro da minha irmã e também isso me fez recuar para há sete anos atrás para a morte do meu Pai, ocorrido a 16 deste mesmo mês. Nestas ocasiões as memórias voltam em força e com uma enorme intensidade, pelo que me lembro ao pormenor desses dias e dos sentimentos sentidos. 
Ainda tenho uma imensa pena por não ter tido oportunidade de falar com o meu Pai como gostaria e com os conhecimentos que tenho hoje e agora. Sinto principalmente a falta dele por esse motivo, para além de lhe querer também fazer tantas e tantas perguntas. Efectivamente marcou-me imenso, quer em muitos aspectos positivos mas também em muitos factos e formas negativas, que tenho vindo a descobrir e a interiorizar.
Esta sensação de susto ou duma certa incompreensão ou insatisfação está ligado aos acontecimentos recentes que ainda não estão devidamente cimentados e interiorizados; além disso existe sempre o receio de que haja repetições dos factos e de atitudes, pelo que em silêncio tenho mesmo que aceitar esta realidade e não deixar que ela me perturbe ou assuste.
Mas, como disse, são resquícios do passado que afloram o presente e que o condicionam, porque até parece que, por vezes, sinto prazer em ter dores que poderia não ter e evitar por completo. Se aceitasse o que acontece e se acreditasse mais em mim e nos outros!
Mas se nunca acreditei e se nunca tive a auto estima necessária, será que ainda a consigo recuperar e estabelecer as pontes necessárias para viver comigo mesmo e com os outros ?? E acreditar nas pessoas que vivem comigo, me Amam e estimam ?
E não dar crédito a determinados factos ou acontecimentos, nem ficar a remoer para todo o sempre nas mesmas coisas e afastar essas reminiscências que me vão assaltando e não permitindo que esteja em paz, tranquilo e em silêncio como já consegui estar... tenho que acreditar em mim e deixar de ser aquele Velho do Restelo avesso a mudanças e a transformações que, muitas delas, podem e são boas.
Por tudo isto ou por nada, tive uma noite agitada, envolto em sonhos com muito ruído e desassossego permanente, fruto deste estado em que me encontro ou simplesmente o inconsciente à procura de fugas ou de se manifestar duma forma que me permita estar melhor e mais silencioso.
Quero estar de bem comigo, e com os outros, com um SORRISO pleno de confiança e de auto estima, bem como de apreço pela vida e pelas pessoas que me acompanham. Sobretudo as que me querem é que me podem fazer feliz, sem projectar nelas as minhas angústias, medos ou fantasmas.
UM SORRISO especial para todos os entes queridos ou conhecidos que já não estão entre nós mas que certamente nos acompanham e permanecem connosco através da memória e da saudade.

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