quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Anjos e Demónios

Sempre tive a tendência para ter comportamentos por vezes antagónicos e de pressionar excessivamente com quem comigo lido e principalmente as pessoas de quem gosto mesmo. Pareço ter a vontade de submeter os outros à minha vontade sem me preocupar com a autonomia que os outros forçosamente têm e que tem que ser respeitada. Vou indo até ao limite das pessoas e apenas quando há uma reacção violenta da outra parte é que consciencializo as minhas atitudes. E refiro-me muito às pessoas que comigo trabalham e interagem diariamente, porque deve ser bem difícil trabalhar comigo.
É um aspecto que deveria analisar devidamente porque tem a ver com a tal minha dupla faceta de anjo e demónio que a minha primeira psicoanalista me dizia que eu tinha. Sou capaz de ser a bondade personificada mas também ter a maldade certa para magoar e atingir profundamente as pessoas, na medida em que tenho a capacidade inata de saber instintivamente os pontos fracos das pessoas com quem trabalho e com quem convivo.
Às vezes só dou conta disso quando sou confrontado com atitudes extremas de reacção das pessoas que são fruto do meu comportamento e nessas alturas, tento parar e reflectir acerca do que devo ou não fazer ou dizer e tento então, duma forma indirecta, remediar a situação se ainda for possível
Tenho que reflectir e emendar esta duplicidade que por vezes atinge patamares elevados, principalmente se estou aborrecido por outros motivos ou algo não me corre como eu quero e então a tendência é descarregar em cima de quem comigo trabalha ou convive. Reflectir bem acerca disto.
Há situações engraçadas e na verdade o UNIVERSO é sábio na sua actuação e procedimento. Na 2ª feira, a Mãe duns doentes meus, cuja família é desde sempre minha doente, resolveu desmarcar as consultas dos filhos e não marcar mais por estar aborrecida com algo que não quis explicar à minha assistente. Fiquei super aborrecido e a pensar no que iria fazer em relação a isso, tanto que escrevi uma mensagem ao Pai das crianças a tentar perceber, não tendo recebido qualquer resposta. O curioso é que ontem, suposto dia da consulta desmarcada, a avó da criança pediu-me uma consulta para o neto, que tinha partido o dente e ironia do destino, nesse mesmo dia em que a consulta tinha sido desmarcada pela Mãe. A suposta razão da senhora era que não lhe tínhamos dado um recibo detalhado que ela tinha solicitado e a verdade é que esse mesmo recibo lhe tinha sido enviado por fax. Não estávamos em falta com nada, mas as pessoas são assim mesmo. Se fosse noutra ocasião ter-me-ia recusado a ver o menino, mas atendendo à família, aos laços de quase amizade que nos unem e também a este período de crise, resolvi ver a criança, ficando com um enorme SORRISO interior perante esta situação. A verdade é que teria sido muito mais lógico ter havido uma conversa franca e honesta da parte da dita senhora e um esclarecimento da situação e eventual desagrado e não esta "quase" ruptura que apenas foi evitada pela avó que assumiu a responsabilidade e quis mesmo que eu visse o neto. Tenho uma relação de grande cumplicidade e de quase amizade por toda esta família, que trata já há mais de 20 anos, motivo pelo qual fiquei bem aborrecido.
Felizmente que tudo pareceu resolver-se e espero que para o futuro possa continuar a tratar os meninos, bem como o Pai. Aproveitei a onda e escrevi também a mais dois doentes que nunca mais vi mas até à data não obtive nenhuma resposta. Há certas atitudes que me fazem confusão, principalmente de pessoas que são minhas doentes há muito tempo e que inexplicavelmente desaparecem sem eu saber o(s) motivo(s). Uma coisa são pessoas que apenas vão uma ou outra vez e porque estão na zona e outra é desaparecerem pessoas "antigas" e de longa data. Alguma explicação haverá para tais comportamentos e talvez seja por motivos vários e sem estarem relacionados com o consultório.
Há muita gente em dificuldades económicas e por causa disso, tenho também que rever as despesas e tentar diminuir os custos, apesar de me poder ainda dar por satisfeito na medida em que ainda hoje me contaram duma colega que teve, em Linda a Velha, uma baixa de 70%... é muitisssimo e é gravíssimo, pelo que espero que , pelo menos, continuemos assim porque vamos conseguindo equilibrar as coisas, apesar de não conseguirmos poupar nada.
Mas mantenhamos o nosso SORRISO habitual e tentemos progredir neste quotidiano com a nossa filosofia de viver um dia de cada vez e "step by step" alcançar o que pretendemos com muita ENERGIA, FORÇA e FÉ nas nossas capacidades e de quem nos envolve no quotidiano.

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