sábado, abril 19, 2014

Páscoa

Nesta Paz Pascal, rodeado duma boa energia e da tranquilidade da natureza, consigo descobrir uma certa felicidade interna, muitas vezes ausente de mim por desconhecer ser possível ser feliz e estarem comigo próprio com "tão pouco".., é a aplicação de ficarmos bem com o que temos, aproveitando ao máximo em vez de pretendermos ter o impossível.
Aliando este principio ( Less is More) ao entendimento de tudo ou nada, conseguimos estar nesta paz interior que nos é tão gratificante e positiva. Sinto que já consigo estar no meio dos acontecimentos ou sensações e não apenas nos seus extremos, o que me ajuda imenso na minha actual forma de estar.
O entendimento dos factos simples e concretos da nossa vida e identidade interior facilitam, e muito, a nossa vivência e interligação com os outros, pela maior tolerância e aceitação da realidade de cada qual. Se não projetarmos nos outros aquilo que queremos ou somos, é muito mais fácil perceber e sobretudo entranhar todos os objectos externos que nós chegam a cada segundo.
Estou aqui sentado, nesta enorme varanda, defronte duma paisagem bucólica a ouvir os pássaros no seu cantar, com a sensação de estar bem comigo e com quem aqui está, porque são momentos tão pacíficos e tranquilos que nos aquecem a alma e enriquecem a nossa identidade, ocupando um importante espaço numa das muitas gavetas cerebrais que temos.
Vou vendo as publicações do AA no Facebook e os sentimentos contraditórios mantém-se, estando agora menos zangado do que há uns dias; de qualquer forma este acompanhar desse projecto ajuda-me a tomar maior consciência do que vai efectivamente acontecer e a ultrapassar muito das minhas reacções iniciais. 
Fiquei extremamente zangado, não só com ele mas também com os que me rodeiam no dia a dia, tendo chegado à conclusão que afinal a zanga é comigo mesmo, pelas minhas frustrações, sublimações e recalcamentos. Ou seja, projecta-se nos outros as nossas vivências, os nossos medos e maiores receios, tendo este abalo sido útil para me aperceber dos padrões repetitivos em que me movo/ movia.... a sensação de perda e de abandono foi brutal e avassaladora, o sentimento de traição esmagador e ainda a manutenção do segredo e do silêncio incompreensível numa primeira fase.
São padrões de vida que sempre me acompanharam.. o abandono de afectos e de Amor, a vitimização permanente como forma de estar e de ser, o esconder a realidade e manter a cabeça dentro da areia são características dos meus Pais e família que me marcaram fortemente.
Esta nova situação do meu analista fez vir à superfície todas essas conexões e ainda outras de que me vou apercebendo com o passar dos dias. A primeira reacção foi violenta e muito forte, com a vontade de abandonar de imediato a análise e nunca mais voltar, tal o impacto sentido da tal "traição e abandono" ...
Esta ligação de intimidade criada é estranhíssima e ainda não a sei definir como queria, mas o que sei é que existe uma enorme ligação e dependência da minha parte, estando assustado com o futuro desta mesma relação analítica. Já pensei em mudar de terapeuta, mas "adoro" o AA e seria um pouco andar para trás neste processo porque teria que recomeçar quase de novo e  sobretudo sem ter a certeza de conseguir criar a empatia que tenho. As semelhanças de vida e de realidade entre nós são bastantes, o que contribuiu para mais rapidamente me sentir predisposto a realisticamente falar do muito que sentia. Principalmente porque sei que ele percebe muito do que sinto e passei pelas tais similitudes existentes. 
Tudo isto não obsta a que ainda não tenha entranhado na totalidade está viragem de vida e de objectivos, mas começo a sentir-me muito menos revoltado e angustiado, se bem que ainda tenha algum tempo para me adaptar e compreender melhor a situação.
Mas, como digo, neste local tranquilo, mas não paradisíaco como algures, em Sri Lanka, estou em paz comigo, num estado de neutralidade que me agrada, bem como sem pretender mais do que tenho agora e neste momento. 
É evidente que ainda sinto também a inveja e a raiva de não poder fazer o mesmo que é abandonar tudo e refazer a vida algures, com meios próprios e próprios; infelizmente não o posso fazer mas talvez possa dentro dos meus condicionalismos, mudar parte da minha rotina e dos meus objectivos para também sentir maior Felicidade e realização pessoal.
Como estou a fazer por isso e a conseguir ocupar a minha mente com projectos novos, ideias a concretizar, estou aceitar-me mais e melhor e a conseguir ter um SORRISO cada vez mais tranquilo e verdadeiro.
Espero e desejo conseguir manter este caminho, sempre com este espírito e este SORRISO que me acompanha desde o primeiro comentário feito neste blogue e que me remete para a cara sorridente duma velhinha à porta de sua casa no Alentejo.

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