quinta-feira, fevereiro 15, 2018

Simplicidade

Mais um dia, a caminho dum fim de semana normal e sem grande história. Hoje vou, finalmente, ter a minha Bimby e por isso no fim de semana vou querer, certamente, fazer muita coisa nova e experimentar o meu novo brinquedo.
De repente fiquei muito pensativo, mas ao ler um texto lindíssimo da JSL no facebook a minha disposição mudou um pouco. Ela aborda um filme, uma postura de vida e sobretudo um olhar interior fantástico , uma visão interior de que gostei imenso para além de que escreve muitíssimo bem.
Vale a pena ler, meditar, reflectir, fazer um grande SORRISO e aceitar que a FELICIDADE é feita de pequenas coisas. Obrigado, Joana
"E que belo dia do namoro!
No dia 22 de Dezembro do ano passado, sentia-me tão cansada pelo trabalho desse mês. Estava esgotada. Tinham-me sugado todas as energias que geralmente vivem comigo, que são muitas e longas. Nesse dia, dei por mim a estar fisicamente presente num lugar: na Avenida da Liberdade, numa ação de natal para ajudar os sem-abrigo. Mas mentalmente, estava completamente fora desse sítio. Apetecia-me chorar, dormir. Sentia-me tão mal de estar ali para ajudar, e a sentir que precisava de ser eu a ajudada. Deixei de sentir, e deixe-me ser. Nesse mesmo dia, um anjo salvou-me. Sentei-me à conversa num banco da Avenida, ainda com uma pessoa do meu trabalho. Uma conversa boa, de desabafo, de respirar. Ar, palavras, sonhos. Do que dávamos para fugir “disto tudo” às vezes.  Do bom que era estar ali à conversa. Demos um abraço e “Bom Natal”, com gigantes dentes à mostra. 
Ontem,  dia 13 de Fevereiro, fui ver o filme Call me by your name. Já andava a querer vê-lo há dias e dias. Ontem tive sorte, consegui companhia de uma amiga, e fui. O comentário da minha amiga foi “Isto foi o melhor filme que vi nos últimos tempos, é incrível. É mesmo intenso!!”. Partilhei o sentimento por inteiro. Estávamos tão envolvidas e comovidas com a história. Fomos andando até a casa, sempre a falar sobre o filme. Fomos comentando as várias mensagens que passa. Fomos fazendo perguntas, muitas para as quais não tínhamos resposta. Fomo-nos fascinando cada vez mais com esta tão bela história de amor. Uma história de duas pessoas que decidiram viver, e que viveram felizes por não terem tido medo do que poderiam sofrer. E sofreram. Uma história de duas pessoas que tiveram sorte de se encontrar, e que viveram ao máximo esse encontro. Uma história de duas pessoas que se apaixonaram porque comunicaram.
Hoje continuei a pensar sobre o filme. Disse a muitos que recomendo, verdadeiramente. E hoje, quando estava a caminhar pela Avenida para casa, resolvi sentar-me num banco. Não no mesmo, mas noutro, a ouvir as músicas que escutei ontem no filme. Foi tão mas tão maravilhoso este final de dia do namoro. 
Tenho quem goste de mim e uma pessoa de quem gosto. Na verdade gosto de várias e que gostam de mim também. Mas não vivi este dia com rosas, nem chocolates, nem com cartas de amor. Podia ter vivido, mas não calhou. 
Vivi um dia aparentemente normal, mas o sentar no banco fez dele um dia muito especial. 
Quando me sentei, já não me lembrava se quer o dia que tinham atribuído ao 14 de Fevereiro. Com o passar dos minutos fui-me relembrando, e pensei que o namoro não e só com o namorado. 
O namoro é pela a vida. O namoro é pelas, e entre pessoas. O namoro é pela cidade. Pelas cores dos prédios. Pelo cheiro. Pela temperatura. Pelas expressões das caras. É quando nos identificamos com os outros. É quando vemos um sorriso que nos apaixona. É quando nos rimos por dentro e choramos por fora.  Somos namorados da vida. Das pessoas. De gestos. 

O meu final de dia foi assim: 
Subi a Calçada do Combro e entrei na Taberna Portuguesa para falar ao Valentim, que lá trabalha. Quando pronunciei o nome dele, lembrei-me do dia, e fiz claro brincadeira com os dois “Oh Valentine, ohhhh Valentinee”!
Daí andei mais um pouco até à Renovar a Mouraria. Tinha ensaio para um espetáculo. Conversei e expus os meus medos. O António disse-me: “Joana experimenta fazer uma coisa. Experimenta ir a um sítio onde vais todos os dias há anos, por exemplo a um café, mas "despe-te" do quem tens sido até agora, e comporta-te de maneira diferente. Pede o café que pedes todos os dias de maneira diferente. Assume uma postura diferente. Experimenta fazer isto, e vais ver que te vais despindo de “merdinhas tuas”. Podes passar a ser menos arrogante; mais humilde; tu descobrirás. Quando tiveres “despida” tudo o que tem que vir, virá a seu tempo. Serás mais tu. Conhece-te a ti, por ti.”
Acrescentamos mais passos à coreografia,  dançamos. É tão bom poder ser criativo e livre. 

E vem agora a parte mais bela:
Começo a passada para subir a Avenida até casa. Já estava com os phones, e com  a música do filme posta. Depois de dias tão frios, esta noite parecia uma daqueles quentes de Verão, em que andamos só de t-shirt. Lembrei-me do dia 22 de Dezembro, olhei para o banco e sentei-me. 

Fiquei só a respirar. A olhar. A observar. A sentir a música. A rir. 
Em frente havia prédios com cores,  bem bonitos. Atravessei a Avenida a pé centenas de vezes na minha vida, e nunca os tinha visto. Depois de olhar os prédios, pensei que estava feliz de estar ali. Sabia-me bem, estar parada ali. Percebi que estamos sempre a ir de um ponto de partida para um ponto de chegada. Nunca nos damos ao luxo de parar a meio, quando nos apetece. Parece que o tempo está sempre contado, mas o tempo somos nós que o fazemos. 
Tive a oportunidade de ver coisas tão maravilhosas, que só quem para e observa, é que as pode sentir e viver. 

Vi um rapaz de 20 anos a correr com um ramo de malmequeres amarelos na mão.  Gostei tanto que não fossem rosas encarnadas. 
Do outro lado, ia um rapaz com que me identifiquei. Dançava que nem louco abanando a cabeça e o corpo, enquanto andava a passo rápido pela a Avenida abaixo. 
Passou uma família com um casal e um filho pequeno. Eram claramente estrangeiros. O filho falou e o pai esboçou um sorriso, com tanta alegria que até a mim me deixou naquele estado. 
Vi uma miúda pequena a caminhar ao lado do pai, agarrou-o pelo braço e pôs a mão dela dentro da dele. Atrás ia a mãe com a filha mais velha, e curiosamente na mesma linha ia uma senhora que não pertencia à família. Passados segundos, olhei para o fundo do passeio e pareciam um grupo de 5. A senhora caminhava ao mesmo passo para ir acompanhada pelos 4, com amor. 
Vi casais de mão dada. Aproveitando o facto de não estarem sozinhos neste mundo, tocavam-se. Outros de mãos desatadas. Talvez com medo de serem rejeitados. 

Olhei para cima e estavam árvores de Inverno, despidas. Pareciam raízes. Raízes. Terra. Pertencemos a este mundo e não estamos sozinhos. Hoje dei-me conta de que há tanta gente, e que há tanta empatia entre o ser humano. É incrível. 
Quando nos abrimos, o coração abre-se e abre-se para receber mais do mundo. 

Experimentem um dia elogiar o trabalho de alguém. Experimentem um dia entrar na porta da Taberna Portuguesa. Experimentem um dia perguntar se alguém vos pode ajudar a não ter medo. Experimentem um dia dançar no meio da rua. Sentar num banco à noite, numa rua que vos é familiar. Experimentem parar num sítio ao calhas, e olhar. Esboçar um sorriso a alguém. 


O que tento fazer no namoro: sabendo que é difícil porque existem expectativas e necessidades do coração, tento que ele seja a cereja no topo do bolo. E esforço-me para não querer que ela seja “ o bolo”. “Esse” sou eu, e farei a melhor receita para ligar bem com cere(i)ta. Não quero que ele seja como eu. Não quero que ele seja como eu quero. Quero que ele seja ele. Quero gostar dele, cereja. Quero gostar de mim, bolo. Quero fazer de tudo e de todos, cerejas boas do meu coração.

Sem comentários: