Hoje é dia de eleições legislativas e uma vez mais já fui cumprir o meu dever cívico. Constatei, com agrado, que a afluência me pareceu francamente superior ao dos últimos actos eleitorais, o que é, espero, bastante bom, não só porque demonstra que as pessoas estão empenhadas, como normalmente uma maior afluência significa melhores posições para o meu espectro político.
Desde 1974, que voto em todas as eleições, à excepção das últimas eleições europeias, uma vez que estava de férias na Irlanda, o que me vai impedir de algum dia me candidatar a presidente da república, porque um candidato a esse cargo tem que ter votado sempre.
Lembro-me com saudade das primeiras eleições livres que houve e do entusiasmo suscitado, tendo o costume de organizar sempre um jantar no dia das eleições para se ir comentando os resultados e discutido a situação. As noites eleitorais arrastavam-se pela madrugada, uma vez que os sistemas de apuramento eram muito demorados e só havia resultados certos bem noite dentro. Tive muitas decepções e nomeadamente nas eleições presidenciais, raramente fui um "vencedor" e sofri imensamente com as eleições entre o Mário Soares e o Freitas do Amaral, porque foram umas eleições muito disputadas, com uma elevada participação, uma enorme esperança na vitória e depois, uma derrota por poucos votos. Acho que nessa noite quase que chorei de frustração e ainda me lembro da péssima disposição dos dias subsequentes. Mas isso aconteceu a muitas e muitas pessoas, que sofreram bastante com essas eleições. Hoje, passados todos estes anos - e já devem ser pelo menos 24 anos - penso que o Mário Soares - pessoa de quem não gosto - até foi um bom presidente. Faço-lhe a justiça de o considerar um dos grandes deste regime, na companhia de Sá Carneiro, de Freitas do Amaral e de Cunhal. Foram dirigentes dessa fibra e desse valor que motivaram Portugal e lhe deram grandes desígnios, o que falta actualmente.
Hoje em dia, não temos políticos com essa dimensão e valor, capazes de motivar os portugueses e de os conduzir por caminhos seguros e válidos. A política está reduzida a fait divers e a golpes baixos, com a discussão de temas laterais aos que realmente interessam à maioria das pessoas. A montagem destas eleições pelas tais agências de comunicação, com a criação de factos e a não discussão do essencial, transforma estas campanhas em espectáculos vazios de conteúdo e á margem do que realmente importa. E infelizmente tudo serve para destruir e ganhar votos, ainda por cima com atitudes erradas do presidente da república no meio da campanha.
A emoção das campanhas e das noites eleitorais é, actualmente, praticamente nula e prova o desfasamento do cidadão comum com a Política e com a governação do nosso País, o que é lamentável e triste, uma vez que apenas do empenho e da vontade de todos, poderemos ter um governo capaz e devidamente funcional para nos tirar deste enorme buraco em que estamos.
Independentemente da cor político ou das nossas convicções, a verdade é que, quanto a mim, necessitamos de políticos com visão estratégica e com valores morais e éticos elevados, que dêem esperança a este País, força e empenho de todos na construção dum presente melhor e dum futuro cheio de possibilidades e duma vida realmente vivida. Sem ideais, sem rumo e sem liderança, dificilmente sairemos desta situação em que nos encontramos. Tenho pena que não tenha sido vista por todos os portugueses, uma entrevista na SIC, com o Medina Carreira, na qual ele dizia, preto no branco, que ou havia uma mudança radical na política e na economia real ou este País deixaria de ser viável num curto espaço de tempo. Nem se trata de TGV, aeroportos ou estradas, mas de conceitos estratégicos e de rumos definidos para sermos competitivos e principalmente viáveis. Este é um assunto que me preocupa imenso, porque me parece que a maior parte das pessoas não percebe a gravidade da situação. E sem ser por facciosismo, não perceber que apenas o facto do BE estar perto da esfera da governação ser o suficiente para agravar a situação e afastar qualquer investimento estrangeiro, porque é dos programas mais perigosos nestas eleições. Nacionalizar tudo e todos à boa maneira soviética é, para mim, o maior disparate político que pode haver e faz-me confusão como é que é possível tamanha adesão a estas ideias, tanto mais que nos debates havidos ficou claro a utopia dessas mesmas ideias e da impossibilidade real de as concretizar sem termos que abandonar os outros países e ficarmos tipo Coreia do Norte.
O dia das eleições é para mim, um dia especial e diferente, apenas porque somos livres e temos uma democracia; eu ainda vivi até aos meus 18 anos, no outro regime, com toda a diferença existente e que os que nasceram após 1974, não têm essa noção e a sorte de terem nascido já num País livre e sem qualquer tipo de censura ou perseguição. Daí a intensidade e emoção que ainda vivo estes dias eleitorais, a satisfação por ver a afluência às urnas e o empenho num resultado, que para mim, seja realmente bom para Portugal.
Espero sinceramente que destas eleições resulte um Governo capaz e apto de vencer os grandes desafios do futuro e que haja verdadeiro empenho na resolução dos problemas, de modo a que possamos ter esperança no futuro e vontade de, no presente, ajudarmos a construir esse mesmo futuro.
Neste dia especial, um grande e luminoso SORRISO, com a empenho duma boa votação e de que o futuro seja bem risonho e satisfatório.