quarta-feira, dezembro 18, 2013

Silêncios

Silêncios... ontem na análise abordámos esta temática e os motivos pelos quais os silêncios me incomodam, provocam alguma dor e irritação!
Como tenho o registo do Tudo ou Nada, os silêncios significam para mim, uma expressão de desprezo, de não gostar e de me ignorar. Sendo uma pessoa que precisa de se sentir Amada e estimada, é por isso, compreensível que ( e ainda) sinta esses sentimentos e esse antagonismo perante os silêncios das pessoas que estimo e que estão comigo.
Quase que me sinto afrontado e ofendido com esses silêncios, visto que eles estarão associados a rejeição, a menosprezo e a desconsideração, o que me provoca, evidentemente, desconforto e dor. Daí as minhas reacções e alguma agressividade perante essas mesmas situações de silêncio que não controlo nem percebo.
Ontem o AA esteve silencioso e menos participativo do que é costume e, não sendo a primeira vez que assim faz, senti-me particularmente incomodado na medida em que preciso de sentir estima, interesse e carinho.
Ao chegar a casa, deparei-me com o mesmo ambiente de silêncio... evidentemente que fiquei perturbado e um pouco agressivo, pelos motivos expostos. Parece que volto aos meus tempos de meninice, nos quais  a minha Mãe me deixava de falar por algum erro ou falta cometida. E sentindo-me agredido, a minha primeira reacção é atacar e agir antes de pensar. 
Neste momento, em que, como não devo, não tenho nada a temer nem a esconder, tento raciocinar melhor e evitar o confronto, mas sei que nem sempre consigo pelas teias de aranha existentes no meu armário inconsciente.
Também ontem comecei a "atacar" o analista pela aparente estagnação da análise, porque enquanto que inicialmente parecia avançar em cada sessão, agora sinto que estamos (quase) sempre a bater nos mesmos pontos. Chegámos à conclusão que sinto a necessidade duma vibração permanente, de chamadas de atenção e de querer estar sempre em movimento.
Percebi, ou melhor, intui os motivos pelos quais me faz tanta confusão e até irritação o facto de se estar permanentemente de televisão acesa quando se está a fazer determinada tarefa na cozinha e se perde tempo a olhar. É uma forma diferente de estar e de fazer que tenho e devo aceitar sem me perturbar, mas que sinto como que uma falta perante o que se está a fazer e um "esquecimento" dos outros, neste caso de mim.
É o tal egocentrismo existente e a constante falta de autoestima e de confiança, que precisa de estar sempre a ser alimentada e regada por quem me rodeia. Apesar de achar que não adiantamos caminho, a verdade é que, pelo que hoje escrevo, estamos a seguir em frente e a descobrir mais e mais coisas que tenho dentro de mim e em mim.
Esta questão dos silêncios vem de longe, porque sempre senti um enorme desconforto quando tinha/tenho que enfrentar pessoas que nada ou pouco conheço e não sei que mas abordar. Estou a falar no plano pessoal e social, porque no profissional é fácil e evidente na medida em que se segue quase um protocolo.
Mas por exemplo, em festas como baptizados, casamentos ou aniversários em que não sabemos a mesa que nos vai calhar, preocupa-me os silêncios que possam existir, os constrangimentos que surjam porque me sinto na obrigação de falar, arranjar temas de conversas e animar esse mesmo espaço.
É por isso que, quando me aborreço seriamente com uma pessoa que estimo, lhe deixo de falar e a "castigo" dessa maneira, provavelmente repetindo as atitudes e acções da minha querida Mãe que continua a fazer isso, bem como a preferir não falar em determinados assuntos, pondo a cabeça debaixo da areia como as avestruzes.
Uma vez mais vamos ter ao mesmo local e às mesmas influências que se repetem ao longo das sessões, e conversas e pensamentos recentes.
A vida vai dando as suas voltas e seguindo o seu percurso, com um conhecimento e compreensão cada vez mais claros e perceptíveis, apesar de termos ainda pela frente muita pedra para partir, com a tal picareta de que, ontem, o AA falava.
É contraditório achar que não avanço na minha terapia e conseguir fazer todas estas associações, descobrir uma série de motivações e de razões que me levam a agir de determinada maneira e feitio e ainda de perceber as formas de estar e de sentir as coisas. A verdade é que o SILÊNCIO me é incomodo pelas razões apontadas e principalmente porque  associo a menosprezo, rancor e pouco ou nenhum Carinho ou Amor. Reminiscências do passado ? Hábitos incutidos por quem me influenciou tanto ao longo da infância? 
Porque a minha família é muito de silêncios e de esconder assuntos e temas que, devendo ser esclarecidos e facilmente assimilados, rapidamente se transformam em assuntos proibidos ou tabus precisamente por não se falar e esclarecer. É um registo familiar absorvido e que me causa desconforto e dor.
Fiquemos pelo nosso SORRISO habitual, com muito som e muita luz, para que nós sintamos acarinhados, amados e estimados.

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